Maurício Lima
Do nascimento à morte, essa é a quantidade de detritos que cada brasileiro vai produzir
Foto: Nellie Solitrenick/Montagem de Beto Nejme sobre foto de Marisa Uchiyama
A maioria das pessoas pensa que basta jogar o lixo na lata e o problema da sujeira vai estar resolvido. Nada disso. O problema só começa aí.
Você já reparou na quantidade de sujeira que se acumula na lata de lixo da sua casa nos fins de semana? Pois é. De lata cheia em lata cheia, cada brasileiro que viva até os 70 anos de idade vai produzir 25 toneladas de detritos.
Como a família média no país é formada por quatro pessoas, cada lar irá fabricar 100 toneladas de lixo. São números pavorosos, mas pouca gente dá atenção a isso até que o lixo — feito um vulcão aparentemente extinto — dê sinais de vida. Foi o que aconteceu em São Paulo, durante as enchentes dos últimos dias. O lixo foi apontado como o maior responsável pela tragédia. A intensidade de chuva que caiu sobre a cidade foi semelhante a da última grande enchente, ocorrida em 1988. Ou seja, não havia mais água do que há onze anos. Havia, sim, mais lixo, cuja produção dobrou nesse período. Como ele estava em toda parte, entupiu bueiros, diminuiu a vazão de água e ajudou a piorar o caos. "Não há dúvida de que esse é um dos maiores problemas da sociedade moderna. É uma bomba-relógio", diz Sabetai Calderoni, economista da Universidade de São Paulo e autor de livros sobre o tema.
O lixo é um indicador curioso de desenvolvimento de uma nação. Quanto mais pujante for a economia, mais sujeira o Brasil vai prodizir. É sinal de que o país está crescendo, de que as pessoas estão consumindo mais. Segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, Abrelpe, o brasileiro passou a produzir muito mais lixo depois do Plano Real. A cidade de Salvador teve um aumento de 40% na coleta de detritos. Em São Paulo, o crescimento foi de 13%. Os cariocas assim como os curitibanos, jogaram 22% mais coisas fora. Por dia, calcula-se que o brasileiro produza 1 kg de lixo domiciliar. Ainda estamos longe dos americanos com seus inacreditáveis 3 quilos por pessoa, mas já ultrapassamos países da União Européia (veja tabela).
Produção diária de lixo per capta de alguns países
A questão é que as grandes cidades brasileiras não têm estrutura para encarar esse crescimento e se encontram perto de um limite. As prefeituras estão sem dinheiro para a coleta e já não há mais lugar onde jogar lixo. São Paulo, por exemplo, tem cinco dos seus sete aterros sanitários lotados. Os dois que restam, de acordo com as previsões mais otimistas, devem durar apenas mais quatro anos. Nesse momento, assemelham-se a uma panela de pipoca, onde o milho ameaça transbordar.
O probelma ganha uma dimensão mais perigosa por causa da mudança no perfil do lixo. Há cinquenta anos, os bebês, como o que aparece na fotografia, utilizavam fraldas de pano, que não eram jogadas fora. Tomavam sopa feitas em casa e bebiam leite mantido em garrafas reutiizáveis. Hoje, os bebês usam fraldas descartáveis, tomam sopas em potinhos que são jogados fora e bebem leite embalado em tetra pak. Ao final de uma semana de vida, o lixo que eles produzem equivale, em volume, a quatro vezes o seu tamanho.
Na metade do século, a composição do lixo era predominantemente de matéria orgânica, de restos de comida. Com o avanço da tecnologia, materiais como plásticos, isopores, pilhas, baterias de celular e lâmpadas são presença cada vez mais constante na coleta. Em 1986, existia em todo o planeta apenas 1,3 milhão de linhas de celular. Hoje são 135 milhões e daqui a sete anos serão 850 milhões de linhas. Todas consumindo baterias altamente tóxicas para a saúde pública quando jogadas de qualquer maneira nos lixões. Levando-se em consideração que o Brasil tem 7 milhões de linhas de celular e que 70% do lixo brasileiro é jogado a céu abeerto, a contaminação dos lençóis freáticos locaisados abaixo desses não pára de crescer.
No Brasil, só 1% do lixo é reciclado. Quase 70% é coletado e jogado a céu aberto
Foto: Antonio Milena
Dar um destino adequado ao lixo é um dos grandes desafios da administração pública em todo o mundo. No Japão, onde não há lixões, parte dos detritos é colocada em barcos e enviada para países vizinhos que cobram pelo serviço. Em Nova York, são aplicadas multas de até 300 dólares para o cidadão que não faz a triagem em casa separando papéis, latas, plásticos e vidros. A maior parte do lixo vai para o aterro sanitário de Staten Island também de barco. O mau cheiro toma conta do lugar, parte do Brooklyn e às vezes, dependendo do vento, volta para Manhattan. No Brasil, o problema vem sendo enfrentado de forma inadequada e improvisada. Boa parte do lixo é simplesmente jogada em grandes terrenos, isso quando chega a ser coletado. Calcula-se que 30% do lixo brasileiro fique espalhado pelas ruas das grandes cidades. Basta um passeio pelo centro de qualquer capital para perceber o grande número de sacos plásticos, papéis e todo tipo de sujeira pelo chão. O brasileiro ainda não joga o lixo no lixo. "Jogados assim, os detritos podem provocar um grande número de doenças. Entre elas, febre tifóide, leptospirose e as infecções de pele", diz o professor José Luiz Mucci, do departamento de saúde ambiental da Universidade de São Paulo.
Poucas são as cidades que estão investindo pesado numa solução mais definitiva. A saída ideal está na reciclagem e na montagem de usinas geradoras de energia. Em Curitiba, existe uma fábrica que recicla os inimigos da natureza(veja quadro ao lado).Em Madri, capital da Espanha, 50.000 habitantes recebem energia elétrica gerada a partir da reciclagem do lixo. O sistema transforma montanhas de detritos em gás metano. Esse gás vai para uma minitermelétrica que faz a conversão para eletricidade. "Com 15 milhões de dólares você monta uma usina que consome 250 toneladas de lixo por dia e gera energia para 50.000 pessoas", diz Sabetai Calderoni.
Bom negócio – Nos Estados Unidos, a indústria de reciclagem do lixo fatura 120 bilhões de dólares por ano. É um resultado equivalente ao das montadoras de carros americanas, mas com margens de lucro maiores. […]. no Brasil, os números são bem mais modestos. O economista Calderoni fez a conta no livro “Os bilhões Perdidos no Lixo” e mostrou que o país fatura hoje 1,2 bilhão de dólares por ano com essa atividade. Esse número poderia ser de 5,8 bilhões de dólares em pouco tempo.
Falar de lixo é tão etéreo quanto falar de água encanada. As pessoas não têm consciência de como ela vem ou para onde vai. Com a sujeira, a única vontade é que desapareça o mais rápido possível para longe dos olhos. Esse é um sentimento natural. No Brasil, menos de 1% do lixo é reciclado. É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que encontrar uma casa com cinco lixeiras diferentes, uma para cada tipo de detrito. Na França, o consumidor está adotando novo conceito na hora de fazer as compras: a possibilidade de reutilização das embalagens. Em vez de levar o leite de caixinha, um movimento de donas de casa recomenda a compra de uma garrafa plástica que pode ser reaproveitada depois. Os empresários já estão produzindo embalagens retornáveis que são procuradas pelo consumidor graças aos descontos: é o chamado selo verde. Lá, eles já perceberam que não se acaba com o lixo atirando-o na lata. O problema começa ali.
Conhecendo um pouco mais.
Orgânico e inorgânico
Ao falarmos em lixo orgânico, nos referimos aos restos de animais e vegetais, principalmente as sobras de alimentos. Esses materiais se decompõem em curto prazo e, por isso, podem ser transformados em algum tipo de adubo. Essa classificação de “lixo orgânico” não coincide com a utilizada na Química. Em Química, orgânica é a área que estuda as substâncias de carbono, e inorgânica a área que estuda as substâncias dos demais elementos químicos.
Fonte de texto e imágens: http://veja.abril.com.br/170399/p_060.html?17/02/2010/20:07(Notícia extraída da revista Veja n. 1589,p. 60-2, 17 mar. 1999/Maurício Lima.)
OBSERVAÇÃO
Esta postagem possui fins didáticos. Faz parte da prova que se encontra abaixo. Sua escolha se deve por conta de que, apesar de ter sido publicado em março de 1999, tem tudo a ver com o que tem acontecido com o Estado de São Paulo, como também com outros, nos últimos dois meses, inclusive com o que aconteceu hoje no retorno do carnaval dos moradores de São Paulo que haviam viajado.
- TESTE 01
- TESTE 02
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
UM BEBÊ = 25 TONELADAS DE LIXO
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Tudo pronto.
ResponderExcluirApós efetuar sua postagem e a devida liberação por mim ela parecerá aqui. Capriche na sua foto. Ela aparecerá para o mundo todo.
Tentando outra possibilidade.
ResponderExcluiraew professor tava dando uma olhada aki na matéria da prova e axo q tirei nota booa vlw pela prova aew
ResponderExcluirpoor:george rocha nº18 2ºano "D"